Foi em 1916 que Santa Teresa viveu o apogeu do sistema de bondes. Havia quinze carros em circulação permanente, de um total de 35. Hoje, após anos de sucateamento e descaso dos últimos governos, são apenas três correndo nos trilhos do bairro com intervalos que podem chegar a meia hora.
Recentemente, foi prometida uma modernização, entretanto, o processo vem sendo duramente questionado pela Associação de Moradores do bairro, a AMAST. Esta semana, mais uma composição “modernizada” deve entrar em operação. Previsão otimista de funcionários da Central (Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística) dá conta de mais três até julho. Mas o que parece uma boa nova pode ser um “presente de grego” pois traz, no seu bojo, a ameaça de privatização do sistema com o provável encarecimento da tarifa que hoje custa R$ 0,60.
Há quatro anos, quando a TTrans venceu a licitação para a reforma dos trilhos e dos bondinhos, com financiamento de R$ 14 milhões do Banco Mundial, foi anunciado que o bairro ganharia 14 novos carros. Segundo a AMAST, os que chegaram foram apelidados de Frankenstein por serem muito mais pesados, descaracterizados de suas feições históricas, sem estabilidade e sem condições de trafegar. A mudança tecnológica, protesta a entidade, não condiz com o bonde popular, que é muito mais resistente às vias instáveis, compartilhadas com ônibus e carros.
A Secretaria Estadual de Transportes já divulgou que pretende apresentar até o final do primeiro semestre um estudo do modelo de concessão com novo valor da tarifa. O secretário de transportes Julio Lopes já afirmou publicamente que “no modelo de concessão que temos nos trens, barcas, no Metrô e o nos ônibus, temos experimentado avanços no antendimento à população e redução de custos”. A julgar pelo panorama do sistema de transportes, a inclusão dos bondes neste “modelo” só aumenta minha preocupação sobre o funcionamento dos bondes.
A AMAST teme que a tarifa de R$ 0,60 venha a ser reajustada para até R$15,00, o que transformaria uma forma de locomoção barata em passeio de turista. Nada contra este aprazível programa turístico, mas o bonde é meio de transporte público e ponto final. Participamos de várias reuniões com a AMAST e constatamos que os moradores tem uma lista de reivindicações com vistas à garantir a sobrevivência eficiente deste transporte centenário:
– volta imediata dos 14 bondes restaurados,
– obra de qualidade em toda via permanente,
– formação de uma empresa pública para gerir com eficiência e visão social este meio de transporte,
– gratuidades garantidas de forma integral,
– horário de funcionamento de 5h às 24h, com intervalo máximo de 10 minutos,
– sistema de integração do bonde com outros modais para toda a cidade com bilhete único.
Enquanto isso, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente anuncia investimentos de R$ 1milhão para reativar a linha Silvestre onde o bonde faria conexão com o trem do Corcovado, como no passado.
Mas antes de nos brindar com novas promessas, queremos a garantia de que este antigo veículo de transporte voltará a ser eficiente e continuará a ser acessível à toda a população.
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