A notícia, infelizmente, não surpreende. Mas nos indigna. Vistoria do Crea no PAC do Alemão constatou o que já vem ocorrendo em outros estados: as novas casas do programa vem com defeito de fabricação. Engenheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, Antônio Eulálio encontrou falhas como rachaduras e paredes trincadas nos condomínios Nova Geração e Poesi. Economia na execução da obra pode explicar o problema, informa matéria publicada no jornal O Dia.
Nosso mandato tem alertado para a forma como vêm sendo executadas muitas das obras do Poder Público. Um exemplo recente foi a ciclovia da Zona Oeste, que custou quase R$ 20 milhões, e também já apresenta uma série de problemas. Alterações na licitação da obra incorreram em diminuição de gastos com galerias e outros itens de drenagem. A pista, por isso, fica cheia de poças d’água. Orelhões no meio do caminho evidenciam negligência e falta de planejamento. Chegamos a pedir a instalação, na Câmara Municipal, da CPI da Ciclovia que não aconteceu.
Em se tratando de moradias populares, assistimos a modificações levianas da legislação referente a conjuntos habitacionais que suprimem exigências como áreas de lazer e residência para zeladoria com a justificativa de que encarecem o custo do projeto. A verdade é que reduzem o lucro do empreendedor. Para construir os condomínios e realizar obras de infraestrutura, o consórcio de empreiteiras Rio Melhor (Odebrecht, Delta e OAS) recebeu R$ 721 milhões, destaca O Dia.
Segundo a reportagem do jornal carioca, o engenheiro do CREA verificou “falta de ralos para escoamento da água de chuva no entorno de alguns prédios, o que provoca lamaçal; calhas curtas demais, que levam a infiltrações; tubos para escoamento de água das varandas mal instalados, o que molha os apartamentos que estão abaixo; erros de acabamento e falta de mangueiras nos hidrômetros”.
Não é difícil evitar estes problemas se há rigor na construção e se as empresas seguem as especificações técnicas. Muitos dos projetos públicos são realizados com material da pior qualidade. A obra feita para população da Zona Sul é uma. A obra feita para a população da Zona Oeste – para pessoas de baixa renda – é outra.
O engenheiro do CREA informou que há necessidade de monitoramento constante das fissuras nos prédios do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para evitar paredes trincadas, basta compactar bem a área que receberá o edifício. Embora o CREA tenha descartado risco de desabamento, sabemos que problemas de rachaduras podem ser sérios. Por isso o alerta do técnico.
Que esta não seja mais uma crônica de uma tragédia anunciada. A displicência reservada à população mais carente já é uma tragédia.