“É engraçado. De repente criticar os muitos absurdos e atropelos da Copa virou motivo pra ser tachado de pessimista, de oportunista e até – vejam só! – de reacionário.
Antes de mais nada: muitos dos que são críticos ao evento da Fifa são apaixonados por futebol. A maioria destes, inclusive, já está preparando o churrasco com amigos e familiares para acompanhar os jogos. O Chico é um deles.
Mas isso não deve, de maneira nenhuma, ser confundido com o silêncio diante de todos os absurdos que fomos obrigados a engolir durante os últimos anos. Protestar – antes, durante e depois da Copa – é direito e dever de uma população que pratica a cidadania ativa. De forma organizada, pacífica e com pautas claras, para que não haja manipulação dos conservadores de plantão.
Mas algumas pessoas mais próximas ao governo federal acusam os críticos de “fazer o jogo da direita”.
Peraí! Fazer o jogo da direita?? Quem?
Está na boca do povo: a Copa do Mundo, agenciada pela Fifa, atendeu interesses econômicos muito poderosos. E o interesse público foi colocado em último lugar.
Quem se favoreceu com a Copa tem CNPJ e endereço fixo. As grandes empresas de construção são o maior exemplo. Mas não são só elas. A Fifa, as empresas patrocinadoras, as corporações de mídia, as grandes imobiliárias e outras grandes empresas. Todas tiraram sua casquinha. E os maiores partidos políticos? Esses também parecem ter garantido o financiamento milionário das próximas campanhas eleitorais.
É claro como água! Neste processo, os reacionários saíram ganhando.
O benefício às grandes empresas, o avanço dos processos de privatização, a aprovação de leis que criminalizam os movimentos sociais e relativizam direitos, a militarização das cidades – com direito a Exército na rua! -, a remoção de comunidades pobres, a perseguição aos trabalhadores ambulantes, a elitização do futebol, a implementação de um modelo de cidade excludente… A Copa acelerou questões que historicamente estão vinculadas ao projeto da direita.
Quem ficou de fora foi o povo. De fora dos estádios, de fora de suas casas, de fora do clima de festa que o discurso oficial tentou vender. Vai ter Copa, mas não vai ter a Copa que propagandearam alguns anos atrás.
De nossa parte, seguimos na luta. Com um lado: em defesa de direitos e de cidades mais justas, onde o Poder Público não é subordinado ao poder econômico.”
Chico Alencar é deputado federal do PSOL/RJ
2 Responses to Artigo de Chico Alencar: Criticar a Copa é ser contra o Brasil?