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Falta de manutenção adequada das árvores traz risco ao cidadão

“Relegar a poda de árvores à empresa de limpeza pública é emblemático. Eu creio que o foco na manutenção da arborização urbana da cidade deveria ser a saúde das árvores, e não o lixo”, afirma o engenheiro florestal Glauber Pinheiro, especialista do CREA/RJ, em entrevista concedida ao site do Mandato Eliomar Coelho. Pinheiro – que é coordenador da Câmara de Agronomia do CREA – afirma que o correto era que engenheiros acompanhassem, in loco, a operação de poda mas frisa que “o quantitativo de profissionais está muito aquém da necessidade.” E destaca os três principais erros, no trabalho realizado pela Comlurb, que acabam por transformar árvores podadas em risco à integridade do cidadão.

1) A poda de árvores era competência da Fundação de Parques e Jardins. A Comlurb deveria ter assumido o serviço? Falta corpo técnico?

Acredito que a Fundação Parques e Jardins seria o órgão competente para cuidar da arborização urbana. Seja pela própria razão institucional do órgão, seja pela memória da história da arborização carioca que o órgão traz através do conhecimento dos profissionais dos seus quadros. Nada contra a Comlurb, mas relegar a poda de árvores à empresa de limpeza pública é emblemático pois demonstra como a arborização urbana é vista pelos governantes. Eu creio que o foco na manutenção da arborização urbana da cidade deveria ser a saúde das árvores, e não o lixo. Por isso a APEFERJ (Associação Profissional dos Engenheiros Florestais do Estado do Rio de Janeiro), na época, assumiu publicamente sua posição totalmente contrária à mudança. É preciso zelar pela saúde das árvores para que elas possam proporcionar benefícios ao contribuinte pois, quando isto não é feito, acabam trazendo riscos à sociedade. Riscos ao patrimônio e à integridade física do cidadão. A questão é que este serviço depende de um quantitativo de profissionais habilitados para a intervenção na arborização. Cada operação precisa de um responsável técnico. Sei que a Comlurb contratou alguns engenheiros florestais para atuar nesta área. E sabemos da competência destes profissionais. O problema é que o quantitativo está muito abaixo do necessário para atender a toda cidade.

2) Na sua opinião, a Comlurb não tem realizado o trabalho de forma adequada? Quais as falhas no serviço de poda que têm contribuído para a queda de árvores?

Já foi pior. Eu acho até que estão se adequando. Mas o correto é que os engenheiros acompanhassem, in loco, a operação de poda de cada árvore, e com o quantitativo de profissionais abaixo do número adequado, os problemas acontecem.

3) Como a poda inadequada pode afetar a saúde das árvores?

Basicamente, eu vejo três problemas recorrentes com relação às podas, que colocam as árvores em risco:

– é comum vermos podas que tiram completamente o equilíbrio das árvores. A árvore vai sendo podada ao longo dos tempos apenas de um lado da copa, e vai crescendo do outro lado. Visualmente fica claro que tem muito mais peso de um lado do que do outro, e em algum momento ela vai cair. Se tiver alguma força externa, como a batida de um carro, ou ação de ventos mais fortes, ela cai;

– podas exageradas, que prejudicam a fisiologia da árvore. Na verdade elas matam a árvore, que cai depois de morta;

– podas com cortes mal feitos. Cortes que danificam, ou expõem demasiadamente o tecido da árvore, que prejudicam a cicatrização e facilitam a entrada de patógenos. Os cortes viram a porta de entrada para brocas, para o desenvolvimento de fungos, ou outros organismos patogênicos. Deixam a árvore doente, que pode cair por estar fragilizada e vulnerável, ou podem levá-la à morte.

4) Projetos paisagísticos adequados podem evitar tantas quedas? Há erro nos projetos?

Dependendo da força aplicada, a árvore pode cair mesmo estando saudável. Isto é fato. Mas também é verdade que muitos projetos urbanísticos não dão para a arborização a mesma atenção que dão para outros elementos do projeto. A escolha da espécie errada para cada situação é um erro recorrente. Por isso é tão comum vermos árvores cobrindo a sinalização de trânsito, ou arrebentando calçadas e tubulações de água e esgoto, competindo com a fiação elétrica, ou ameaçando tombar em cima de casas, etc. Podemos citar como exemplo a amendoeira. Uma espécie que anualmente perde as folhas, entupindo bueiros e aumentando o trabalho para o recolhimento de lixo na cidade. Atrai morcegos para áreas extremamente urbanizadas, e a queda de seus frutos amassa carros, e pode machucar uma pessoa. Entretanto, é uma espécie que está representada por muitos exemplares em nossa cidade.

5) É muito comum ouvir reclamações de moradores que solicitam podas e aguardam meses para ver o serviço realizado. Nas Zonas Norte e Oeste é mais comum não haver intervenção efetiva da Comlurb?

Sim, infelizmente isto é muito comum. Como eu disse anteriormente, o quantitativo de profissionais está muito aquém da necessidade.

6) A cobertura verde na Zona Sul é bem maior que nas Zonas Norte e Oeste. Acredita que há uma discriminação na política de arborização da cidade? A prefeitura investe pouco nestas áreas?

Não só a cobertura vegetal, e isto não é novidade para ninguém, os serviços públicos disponíveis na Zona Norte e Oeste não têm a mesma qualidade que os serviços oferecidos na Zona Sul.

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2 Responses to Falta de manutenção adequada das árvores traz risco ao cidadão

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