Em entrevista ao programa The World Tonight da BBC Radio 4, o vereador Eliomar Coelho afirmou: “está acontecendo uma ação criminosa por parte da prefeitura sob a falsa justificativa de que é preciso preparar a cidade para a Copa do Mundo e Olimpíadas.” Abaixo, transcrição da matéria.
Reportagem de Robin Lustig para BBC Radio 4…
O Brasil é um país onde a economia apresenta um grande e rápido crescimento. Nos próximos anos, será a sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas. É também uma das sociedades com mais alto índice de desigualdade no mundo e abriga a Floresta Amazônica – uma das maiores protetoras contra as mudanças climáticas.
Este país continuará administrando este crescimento econômico ao mesmo tempo em que beneficia as classes desfavorecidas e protege seu meio ambiente?
O Brasil merece mesmo esta reputação de ser uma das mais bem sucedidas nações dentro da conjuntura mundial ?
Vamos tentar responder esta pergunta começando a relatar hoje o impacto que as obras que preparam a cidade do Rio para os megaeventos vem causando às populações que estão no caminho.
Estamos na Zona Oeste da cidade onde a Vila Olimpíca sera construída e onde está sendo construída uma nova via (Transoeste). Máquinas pesadas estão nivelando e preparando o solo para receber o asfalto. Milhares de pessoas foram removidas para viabilizar esta obra. Duas mil pessoas viviam neste local em construções ilegais que foram demolidas.
Conversei com Berenice Maria das Neves, moradora que está muito revoltada.
– A prefeitura veio botou minha casa abaixo. Só me deram R$ 8 mil reais. A casa vale muito mais. Estou dormindo na rua porque não consigo comprar uma casa nova com a indenização que eu recebi..
– Qual sua opinião sobre a estrada que está sendo construída aqui?
– É bom para alguns mas não é para outros como eu.- Eu trabalhei duro, durante anos, para construir minha casa e colocar azulejos na parede. E agora, a casa se foi. Minha casa era toda no ladrilho. Derrubaram tudo.
Robin Lustig informa que Berenice está mostrando onde era sua casa. O apresentador pontua que nos destroços da casa de Berenice ainda é possível ver roupas da família.. Robin descreve o lugar onde Berenice mora atualmente, uma espécie de abrigo no meio de uma área alagadiça. A cama está coberta por água estagnada. Definitivamente, Robin diz, não são condições humanas e dignas de vida.
– Vou chamar o prefeito. Eu tinha uma casa boa e ele mandou derrubar – diz Berenice
As autoridades insistem em afirmar que estão reassentando as comunidades, Mas movimentos em apoio aos atingidos pelas remoções afirmam que os removidos estão sendo levados para bairros muitos distantes. Vereador de um partido de esquerda, Eliomar Coelho está solicitando a instalação de uma CPI para apurar o processo das remoções. Ele afirma que há evidências claras de violação dos direitos humanos. ( A matéria foi apurada antes do mandato colher as assinaturas necessárias para instalação da CPI na última terça-feira).
– Está acontecendo uma ação criminosa por parte da prefeitura sob a falsa justificativa de que é preciso fazer isso em função da preparação da cidade para a Copa do Mundo e Olimpíadas.
– Dizem que o Brasil é um país que está se desenvolvendo muito economicamente. O que está acontecendo aqui é o preço deste desenvolvimento? -pergunta Robin Lustig.
– Infelizmente é o preço que estamos pagando. Basta comparar a situação em Londres onde 15% dos apartamentos da Vila Olímpica serao destinados à população de baixa renda. Aqui acontece o oposto. Serão vendidos por um preço muito alto. As pessoas não tem condições de comprar
Estamos em um dos conjuntos habitacionais onde pessoas removidas, como Berenice, foram reassentadas. É um lugar distante e ermo. O morador Cleiton reclama da mudança.
– Preferia ter ficado aonde eu morava. Aqui, além de ser muito longe, foi invadido por pessoas perigosas e não podemos sair de casa a noite.
Como é a vida aqui comparada com a vida na comunidade de Vila Recreio II?
– Tem o lado bom e o lado ruim. As casas são melhores aqui mas é longe de tudo. Se minha mãe precisar de um hospital não contará com o mais próximo que não consegue antender a demanda que cresceu muito com nossa mudança para a região.
Jorge Luis Borges, geógrafo, diz que apenas uma minoria está sendo favorecida.
– Aguns destes projetos podem até aumentar a mobilidade . Mas quem serão os beneficiados? Estamos falando de 30 a 40% da população. Aqui, moram 6 milhões de pessoas e a grande maioria não tem condições de usufruir das obras que os megaeventos estão trazendo para a cidade.