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Em discussão, a inclusão dos deficientes auditivos


“A privação sensorial além dos 3 meses de idade leva a dificuldade da aquisição da língua. Sem língua não há aquisição de conhecimento”, afirma a fonoaudióloga do Ines, Cristina Simonek – mestre em Ciência pela Unifesp. “Para socializar é necessário antes de mais nada dotar o indivíduo de uma língua, seja ela oral ou libras”, conclui. Não incluir é segregar? Como garantir que a inclusão seja, de fato, eficiente? Por que o teste da orelinha é tão importante? Cristina respondeu a esta e outras perguntas

Socializar é melhor? Não incluir é segregar?

Não privar é melhor! A privação sensorial além dos 3 meses de idade leva a dificuldade da aquisição da língua. Sem língua não há aquisição de conhecimento. Para socializar é necessário antes de mais nada dotar o indivíduo de uma língua, seja ela oral ou libras (linguagem brasileira de sinais). Não dá para incluir pessoas em desigualdade de condições. É necessário prepará-las. Entretanto, não propiciar a inclusão para aqueles indivíduos que podem realizá-la é desonesto com eles e com a sociedade como um todo. No Brasil, diferente dos Estados Unidos, a escola especial recebe um indivíduo com outros comprometimentos, além da surdez, por conta do diagnostico tardio e de um sistema de saúde ineficaz. Essa característica vai ter consequências desde o ensino básico até a profissionalização. Desta forma, durante um longo tempo, ele precisará de um apoio especial que somente escolas especiais oferecem. A socialização pode ocorrer através de jogos desportivos e atividades lúdicas, já na parte do ensino é outra coisa.

Qual sua opinião sobre o projeto de inclusão do MEC? O que é inclusão?

A ideia é ótima mas não existe a preparação para a inclusão. Isso deveria se feito pelas escolas especiais. Inexistem critérios técnicos par definer quem pode se incluído, como pode ser e quando realizar esta inclusão.

Acredita que a dupla matrícula e o contraturno podem assegurar uma boa inclusão?

Acredito em projetos que definam metas claras e objetivos concretos, se existe por parte da escolar especial o entendimento que é necessário e benéfico a convivência no contraturno com os ouvintes. Ela deve capacitar a escola regular para essa troca. De outra forma, se somente é oferecido um contraturno ao aluno, sem essa ligação real, isso não vai funcionar. Por exemplo, uma criança surda detectada ao nascimento, que recebeu estimulação, prótese auditiva mais orientação familiar tem grandes chances de chegar aos 3 anos em condições muito próximas das criaças ouvintes. Desta forma, poderá ser facilmente incluída numa escolar regular. O mesmo poderia ser ditto das crianças surdas filhas de pais surdos pois para elas não existe o tempo de privação para aquisição de uma língua. Uma outra situação que é mais prevalente no Brasil é o caso das crianças que só são detectadas tardiamente aos 3, 4 anos de idade e chegam na escola sem nenhum conhecimento de mundo. Sem uma língua, como incluir que não tem língua?

Em São Paulo, o projeto Incluir conta com professor-auxiliar, auxiliar de vida escolar (AVE) e intérpretes em libras. Na sua opinião, as escolas da rede estão preparadas para receber alunos portadores de deficiência auditiva?

O Brasil é muito grande, existem situações diferentes em cada região e os surdos não são todos iguais, cada família é um pequeno universo. O professor auxiliar e o de vida escolar já era usado nos Estados Unidos há mais de trinta anos. É uma boa estratégia para alguns surdos. Só que a etapa anterior é que está faltando. Quem vai ensinar libras? Uma língua precisa ser viva, praticada com outras pessoas que utilizam o mesmo sistema. O intérprete não é professor de libras.

Qual a importância do teste da orelhinha?

Permite que a criança que nasce surda seja detectada imediatamente ao nascimento e receba estimulação. O cérebro tem uma area especifíca para a fala e a linguagem que precisa ser estimulada até no máximo 3 meses de idade. A privação no primeiro ano de vida leva a prejuízos educacionais linguísticos e cognitivos.

Por que se dá mais importância ao teste do pezinho?

Por falta de conhecimento. A surdez é dez vezes mais prevalente. Em 10 mil nascimentos você contabiliza 25 casos contra 2,5 de alteração de fenilcetonuria (teste do pezinho) .

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