Comentário enviado ao blog pelo professor grevista Cláudio S. Carvalho
A realidade da greve do professores estaduais
“Infelizmente não há mais como suportarmos o que passamos. Fazemos greve para demonstrarmos as condições em que vivemos. Sobrevivemos com um salário insuficiente para nos sustentar; que é insuficiente para bancar as atualizações que nos pedem. Porque professor bom é aquele que se atualiza. Essa greve não é um ato de bravura, chegamos aqui por um ato de desespero. Um ato que visa demonstrar o que passamos. Apesar de nem sermos aquela mísera linha final da ultima página de um bom jornal. Tudo depõe contra nossa mobilização. Lutar pelo direito de ganhar um salário digno para sustentarmos a nossa família agora é visto como um ato de rebeldia. E por esse ato somos tratados com ameaças. Um verdadeiro terrorismo que resultou na ultrajante medida de cortar os nossos pontos por um direito que é garantido ao trabalhador.
Saibam vocês que nós professores somos também trabalhadores e não escravos como pensa o poder. Não somos aqueles que são manipulados, apesar de nossa tão aparente miséria e desorganização, a aceitarmos passar alunos que nem sabem ler. Pois com essas formulas que só visam à aprovação do aluno, o que há são indivíduos incapazes de reconhecer e lutar pelos direitos que o cabem. No Brasil, o que temos é uma plutocracia, em que o poder é exercido pelos poderosos, que nos cercam e nos tiram o direito a vida. O professor é visto como persona non grata, afinal ensinar a ver o mundo é algo ruim. Incomoda aqueles que estão no poder. Então, pensam os poderosos, já que eles não reclamam, os deixamos com uma subvida, porque assim os dominaremos.
Dói muito aqui dentro de nosso peito, dói saber que perderemos o pouco que temos. Mas o que vale mais, recebermos o pouco que temos ou dar um basta nisso tudo e mobilizarmos nossa força para que isso tenha uma mudança aqui, neste momento. Temos formas maravilhosas que nada têm a ver com conhecimento. Somos expostos a condições de trabalho estafantes, com salas lotadas, falta de material de apoio, falta de incentivo ao nosso trabalho, um estatuto denominado ECA que nos faz cada vez mais reféns de nossos alunos, já que quando espirramos, temos de pedir desculpar, porque se não nos justificarmos “professor, isso foi uma ofensa e vamos processá-lo”.
Por favor, não somos educadores, somos professores, cabe a família educar e não a nós que não conseguimos nem tempo hábil para nossas aulas com tantas exigências. Como educar aqueles que nos dizem “cê num é meu pai, cê num é minha mãe, e se vier de onda … com ocê”.
Pior que quem era para estar preocupado com a aprendizagem da criança, em sua maioria, só vê a escola como um depósito onde pode deixar seu filho(a) enquanto vai trabalhar. É como estacionassem seus carros e fossem fazer as suas obrigações. Não estamos cansados só de ver nossa vindo esvaindo pelas nossas mãos, mas também com a manipulação de todos os meios para que tudo não pareça apenas um movimento isolado. Temos 70% dos professores estaduais parados por melhores condições de vida e de trabalho e o governo retrata que só existem 2% de professores parados. Olha mais uma mentira. Mentiras que se amontoam com ares superfaturados, computadores em sala alugados que nunca funcionaram; um sistema de movimentação de dados elaborado pela Oi que custou milhões e nunca funcionou. Nós, povo brasileiro, temos de começar a cobrar para onde foi esse dinheiro. O senhor secretário da educação do estado diz que só é possível saber como estão as finanças quando fechar o semestre. Mas como todo economista já sabe, trabalhamos com projeções, então já sabemos o que pode ocorrer.
E ainda mais, o estado recebe Fundef, Fundeb e royalties que devem ser investidos em educação (sua infraestrutura, desenvolvimento, etc). Então o dinheiro que cabe à secretaria de educação, que são, agora, 8% da arrecadação, pode ser investido em melhores condições para os profissionais de educação. E que sejam transformados em salário, não em ajudas de custo como dinheiro-transporte e cartão-cultura que não chegam nem perto de cobrir os gastos com transporte e atualização de um profissional da educação.
Estamos em a greve, mais uma vez, por questão de sobrevivência, muitos não são nem filiados ao sindicato, mas não aguentam mais ter uma subvida. Precisamos de alguém ao nosso lado. Que não sejamos ameaçados mais em nosso local de trabalho por indivíduos que nos amedrontam para voltarmos ao trabalho. Queremos só dignidade, desejamos o direito de respirar um pouco aliviados e conseguir caminhar sem neuras, doenças e preocupações de como faremos para sobreviver por mais um mês.
Que a magistratura faça do seu martelo o que denominamos “justiça”. E que dê a uma classe tão sofrida o poder de lutar por uma mudança necessária ao país. São 17 estados em greve na educação. Que saudades temos de quando éramos respeitados como os detentores de um conhecimento e que tínhamos o legado de alavancar o país para o novo século e para uma potência. E por falar na miséria que recebemos que é um piso de aproximadamente 630 reais, temos de lembrar que aqueles que nos ajudam a mover a escola, nossos funcionários da secretária, departamento pessoal, cozinha, inspeção, limpeza, etc, apenas ganham como piso algo que chega praticamente a metade do nosso piso, e recebem complementação porque é ilegal um trabalhador receber menos que um salário-mínimo.
Pedimos para que sejamos ouvidos. Que tenhamos o direito de viver e trabalhar melhor. Ajudem-nos a caminhar porque assim teremos força para estendermos as nossas mãos para todos crescerem conosco numa nação que leva a educação a sério, que vê no magistério um pilar da nação. Força, corpo docente! Como dizia um simples senhor chamado Confucio: “É melhor ser tolo por cinco minutos e perguntar, do que não perguntar e ser tolo pelo resto da vida”. E por isso, peço licença e digo: ”é melhor ser tolo por um breve instante e lutar do que se amargurar pelo resto da vida por não ter tentado”. Já são quase vinte anos sem nada. Chega, Por favor!”
Forte abraço,
Cláudio S. Carvalho