“A outorga da medalha Pedro Ernesto é sempre um ato político, mas um ato político motivado pelo mérito da atividade pública ou pela biografia da pessoa que a recebe. Comigo não é diferente. Esta medalha, que agora me é concedida, é também um ato político, mas não motivado tão somente pelo mérito de minhas ações políticas e parlamentares, mas, antes, pela necessidade de dar uma resposta política à difamação e a estigmatização da comunidade à qual pertenço – a comunidade LGBT – e com as quais me relaciono (a população negra das periferias da cidade e o povo de santo, os adeptos das religiões de matriz africana) em curso.
Quando se pertence a um grupo difamado, todos os membros do grupo são desqualificados e desumanizados pelos deslizes de um porque os deslizes são apresentados como consequências das características comuns a todos os grupos. Por exemplo: quando dizem que “um negro quando não suja na entrada, suja na saída”; ou quando o pai de santo e o caso das agulhas (embora o conjunto dos médicos nunca seja difamado quando há o erro de um deles); e o mesmo se passa conosco, com nós, LGBTs.
A difamação, a injuria e a desumanização que se abatem, por diferentes meios, sobre negras e negros pobres, povo de santo, povos indígenas e homossexuais são essenciais para que estes sejam expulsos da comunidade de direitos e para que toda violência sobre eles se “justifique”. Quem vai se importar com o rapaz negro abatido numa ação da polícia se todo negro de periferia é apresentado com um bandido em potencial? Quem vai se importar com a travesti espancada até a morte se ela é uma ameaça à família e aos bons costumes? Quem vai se importar com a ialorixá apedrejada e com seu terreiro depredado se ela é a encarnação do mal?
A função da difamação e da reprodução do estigma sobre esses grupos é então esta: negar-lhes direitos fundamentais garantidos na Constituição e justificar toda violência usada para contê-los em seus lugares subalternos, sem voz nem vez.
A injuria que difama e humilha se apresenta cedo na vida de uma pessoa LGBT Eu lembro perfeitamente da primeira vez em que fui chamado de “viado”. Eu tinha seis anos de idade, estava numa mercearia e não sabia o que aquilo queria dizer, mas tive a certeza que era algo “errado” pela forma como foi dita e a reação que causou em quem estava presente.
Já que eu, como representante eleito para o Legislativo federal e por minha conduta pública marcada pela honestidade material e intelectual, e por me inserir nos meios de comunicação de massa, represento um acréscimo de estima aos grupos que represento; como derrubo, com minha atuação, as representações negativas da homossexualidade usadas para justificar a violência contra eles, os adversários da cidadania LGBT que quase sempre não primam pela honestidade intelectual nem pelo jogo limpo – muitos deles atuando nesta casa – decidiram me difamar com calúnias colocadas na internet.
Essa medalha é então uma resposta política a essa difamação
E por ser um ato político que pretende elevar a estima – a estima é o contrario do estigma! – eu escolhi para compor a mesa pessoas que partilham comigo a experiência difícil de pertencer a grupo difamado.”
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