Poucos fenômenos refletem de modo tão evidente e direto o perfil da atual administração municipal quanto aquele retratado na matéria do Globo deste domingo sobre a verticalização na favela do Vidigal. Nos últimos anos, a prefeitura tem colocado em prática um arsenal de decretos e arbitrariedades por parte de seus agentes da SEOP e da Secretaria municipal de Habitação no sentido de impedir que os moradores de favelas possam reformar suas casas, ampliá-las e até construí-las, sob os mais diferentes argumentos. Existe inclusive um decreto totalmente draconiano que proíbe a autoconstrução de novas moradias em todas as favelas da Cidade.
Mas não é em qualquer favela que isso acontece. O alcaide Eduardo Paes está mesmo fazendo história. Ele criou a favela de grife e, nelas, se o proprietário for estrangeiro ou for um empresário disposto a investir na sua elitização, terá toda a possibilidade de construir como bem quiser. O fechamento do POUSO (Posto de Orientação Urbanística e Social), bem no momento da instalação da UPP, é um símbolo poderosíssimo dessa política. Sai o principal instrumento da prefeitura para orientação técnica e fiscalização da favela no que se refere às construções e implanta-se o verdadeiro “laissez-faire” para quem puder pagar o novo patamar de preços da terra.
Engana-se o prezado leitor que der de ombros e achar que só quem está sofrendo com isso é o antigo morador pobre do Vidigal. A explosão de preços dos aluguéis e da terra urbana favelada da Zona Sul terá para a carestia das áreas formais o mesmo efeito que se tentar apagar uma fogueira com um balde de gasolina. A classe média já está esbarrando cada vez mais em dificuldades para encontrar lugar por ali, por causa dos preços dos aluguéis e dos imóveis à venda. Em breve, a Zona Sul será um enclave territorial para ricos do mundo inteiro, onde o carioca sequer conseguirá reconhecer esse espaço como seu. Parabéns Sr. Eduardo Paes!
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