Vários foram os textos publicados corroborando minhas críticas à instalação dos muros. Mas quero destacar um trecho de artigo escrito pela psicanalista Júnia de Vilhena, coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio. A psicanalista lançou uma abordagem sobre muros e grades muito congruente.
“(…) Acostumamo-nos ao fechamento dos espaços de conveniência, por meio de grades, e assistimos, certamente com repercussões clínicas, a uma inversão histórica da tradição milenar: o que agora causa pânico são os espaços abertos, e não mais os fechados.
Há um medo de andar pelas ruas como se dos espaços públicos pudessem surgir os demônios “das classes perigosas”. Não devem ser coincidência tantos diagnósticos de síndrome do pânico e tão graves mudanças em nossa sociabilidade.
A cidade tornou-se o lugar do perigo, o território conflagrado. Mas não sejamos ingênuos. Grades, cercas e muros instauram um clima de guerra – não são apenas barreiras físicas, mas um discurso que convoca o sujeito não apenas a ultrapassagem, mas ao desvelamento do que existe por trás de tais barreiras. Há aí um convite à agressão, por parte daquele que é barrado contra aquele que lhe tolhe o direito de livre movimento.
(…) Sabemos que o problema da violência não é exclusivo das cidades brasileiras, mas é instigante em termos psicológicos e chocante em termos éticos ver a facilidade com que durante tanto tempo convivemos com o que qualquer mente, medianamente socializada, definiria como barbárie.
(…) O que é que o laço social vem disponibilizando ao sujeito contemporâneo? O que faz o reconhecimento do outro como semelhante e que permite a vida em comunidade? Trata-se de buscar um território-mundo de valores, direitos e deveres universais, que conviva com os singulares territórios de nosso coletivo. E este mundo não comporta tantas grades, cercas, muros, camêras: exclusões.”