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Moradia, nos centros urbanos, deve ser integrada

Foi em Clichy-sous-Bois, em 2005, que estourou a revolta de jovens moradores da periferia de Paris – onde reside boa parte dos imigrantes que levam quase duas horas, em transporte público, para chegar ao Centro da capital francesa. Foi o quadro de profunda exclusão social que serviu como estopim para o conflito que resultou na queima de mais de mil veículos, depredações e mortes.

O afastamento da população menos favorecida para os arredores da cidade gera segregação, cria guetos e marginaliza. Na França, funcionou como um barril de pólvora. Nas palavras da vice-prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em recente reportagem publicada na imprensa, “cria-se violência e cobiça quando se colocam as pessoas de fora”.

Em grandes centros urbanos como Paris, Londres e Montreal, só para citar alguns exemplos, existem projetos, postos em prática, de integração através de habitação social com vistas a promover a mixité, a mistura social.

Na Avenida do Parque, área de um bairro nobre na cidade canadense de Montreal, a prefeitura adquiriu terrenos onde 37% dos imóveis construídos, por cooperativas, foram destinados à população de baixa renda. No Centro de Paris, em cada nova construção privada , 25% dos apartamentos são habitações sociais. Na periferia, este índice cresce para 50%. Hidalgo cita, na reportagem, um prédio novo no 15º Arrondissement – área chique de Paris – onde metade dos apartamentos é de alta renda e a outra é de baixa renda. Enumera também que a prefeitura já financiou 30 mil novas habitações sociais e pretende criar mais 40 mil até 2014.

Em Londres, dos 2.800 apartamentos da Vila Olímpica, 1.400 serão colocados no mercado a preços populares, o parque olímpico será transformado em clube local, o centro de mídia em centro de capacitação profissional e a arena de handball em centro comunitário. Grande parte das intervenções foi feita em área mais carente que precisava de investimentos urbanos.

Aqui, ao contrário, o valor anunciado para venda dos apartamentos da Vila Olímpica, ao final dos jogos, é de R$ 400mil. A revitalização da Zona Portuária e regiões próximas prioriza a construção de prédios comerciais como o de 18 andares que será erguido no lugar do Moinho Marilu, em São Cristóvão, cuja implosão já está marcada. Ou assistimos ao governo estadual desistir de construir um conjunto habitacional dentro do projeto “Minha Casa, Minha Vida” na área onde ficava o presídio da Frei Caneca, na Cidade Nova, em função da valorização imobiliária.

Como sabemos, o destino das populações removidas de áreas que sofrem intervenções urbanas justificadas pelos megaeventos (Copa 2014 e Olimpíadas 2016) é a indenização insuficiente para aquisição de uma nova habitação ou a alocação em projetos habitacionais distantes dos bairros de origem, em lugares sem um mínimo de estrutura e serviços públicos. Vale notar que muitas famílias sequer recebem qualquer indenização – o que é verdadeiro crime do poder público.

Por tudo isso, compartilho a opinião de Anne Hidalgo: com vontade política é possível investir em habitações sociais. Mas o norte do projeto político em curso, aqui, empurra a cidade para uma sanha especulativa onde as classes desfavorecidas, definitivamente, não têm vez.

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