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Rio de Janeiro, 1º de outubro de 2013, mais uma ‘página infeliz da nossa história’

Ruas e arredores da Câmara Municipal amanhecem cercados por barreiras policiais. Durante todo o dia, apenas viaturas policiais e caminhões do Batalhão de Choque da PMERJ podiam circular pelas ruas do Centro: Evaristo da Veiga, Senador Dantas e Álvaro Alvim. Até mesmo comércios e escritórios são impedidos de funcionar, sem ordem judicial ou aviso prévio.

Mas, não fora em função de nenhum caso de catástrofe, do tipo prédio desabando.

Em frente à Câmara Municipal cerca de cem professores, em greve, são forçosamente isolados e sitiados por força das barreiras policiais.

São profissionais de educação em greve, lutando por melhores salários e condições dignas de trabalho.

Há dois anos, a MAIOR REDE DE ENSINO DA AMÉRICA LATINA ainda não contava com um Plano de Cargos, Carreira e Salários da categoria.

Naquele dia, enquanto barreiras policiais garantiam que vereadores entrassem na CMRJ, milhares de profissionais de educação continuavam a chegar à Cinelândia. Motivo: ordem do prefeito, à sua base política, de votar o PCCS do magistério, sem nenhuma discussão com os demais vereadores nem com a categoria.

No início da tarde, ouvimos as primeiras explosões, resultado de ações truculentas. Dezenas de bombas são lançadas contra os trabalhadores que estavam reunidos na escadaria da CMRJ e tentavam entrar naquela que deve ser a “Casa do Povo”. Era a barbárie do Estado de Exceção e da Polícia Militar, do governo Cabral/Pezão.

Até o início da noite, os ataques por parte da PM não cessavam. Foram disparados centenas de bombas e balas de borrachas. O Batalhão de Choque atacou covardemente milhares de professores e funcionários da educação que tentavam se proteger dos efeitos dos gases de pimenta e lacrimogêneo com lenços, toalhas e camisas encobrindo seus rostos. Muitos foram presos. Inúmeros feridos receberam os primeiros socorros de um grupo de “socorristas voluntários”.

Do lado de dentro da CMRJ, um grupo de vereadores contrários à proposta do prefeito e em protesto à truculência da Polícia Militar, retiram-se da sessão e não participam da votação do PCCS.

Faz-se necessário lembrar também que, a forma truculenta como a PM tratou os profissionais de educação se iniciou no dia 29/09, quando arbitrariamente e sem nenhuma ordem judicial, o presidente da Câmara Municipal autorizou a desocupação do Palácio Pedro Ernesto.

Por ocasião da desocupação desastrosa da CMRJ, no dia 30/09, convoquei uma reunião que contou com a presença de 21 parlamentares de diversos partidos e representantes da OAB Nacional e Estadual, e que resultou no encaminhamento de uma carta ao prefeito solicitando a retirada do PL e abertura das discussões com os professores.

Faço aqui essas recordações, não com prazer, não com alegria. Mas, com profundo pesar.

Passaram-se dois anos de mais uma página infeliz da nossa história e considero importante registrar tais lembranças como uma forma de combater que novos episódios como este para que não tornem a acontecer.

Nesse momento, por exemplo, tramita nas casas legislativas (Federal, e Estadual e Municipal – do Rio de Janeiro) um Projeto que prevê que discussões político-pedagógicas não poderão acontecer nas salas de aula. Isso é muito perigoso. Isso é ditadura. E nós não podemos permitir o retorno a tempos sombrios, e nem que a educação seja tratada como autoritarismo, forjada pela falta do diálogo.

Parafraseando Rubem Alves,

“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássarosem vôo. Existempara dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”

Assim, entendo que a luta por uma educação libertadora, emancipatória, democrática, laica e crítica, será a única maneira capaz de construir um Brasil melhor.

Nesta quinta-feira (1º/10), às 14 horas, na Cinelândia, Ato “1º de outubro: Dia de Luto na Educação”. Leia mais

 

 

 

 

 

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