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Um museu para chamar de seu

Saiu na Folha de São Paulo, um artigo de Marco Aurélio Canônico sobre a questão do surto museológico no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro. Diz ele: “entre as diversas coisas de que o Rio precisa, dificilmente alguém citaria museus. Afinal, a cidade já tinha 131 deles (em São Paulo são 145, segundo o Instituto Brasileiro de Museus – Ibram), quase todos desconhecidos, mal conservados e com visitação risível.” – a soma dos quatro maiores públicos de museus do Rio não chega ao público do MASP, informa.

O jornalista e historiador questiona a necessidade de se construir novos museus quando se poderia investir integradamente (a nível municipal, estadual e federal) nos já existentes. “Por que criar novas fontes de despesa, que vão disputar dinheiro e público com os museus já existentes, degradando-os ainda mais?”

São perguntas que também nos fazemos.

Os quase R$ 80 milhões gastos apenas no Museu de Arte do Rio (o MAR), inaugurado no início deste mês, equivalem a anos de investimento nos principais museus do Rio.

O que dizer dos quase R$ 600 milhões gastos na construção de equipamentos culturais como a Cidade das Artes??

O município investiu em 2012, apenas R$ 5 milhões na reforma e ampliação de unidades culturais já existentes. Com relação à Gestão e Manutenção, foram gastos cerca de R$ 20 milhões em um conjunto de 24 equipamentos culturais pertencentes à prefeitura – entre teatros (11), museus (3) e centros culturais (10) –, o que perfaz menos de R$1 milhão por equipamento.

Por sua vez, o MAR consumirá orçamento público de R$ 12 milhões anuais para ser gerido por uma concessionária. Já para colocar em funcionamento a Cidade das Artes (quando não se sabe), está previsto o dispêndio de R$ 24 milhões por ano, segundo edital de licitação.

Recapitulando, enquanto 24 dos equipamentos culturais da prefeitura contam com menos de R$ 1 milhão ao ano cada para se manter, dois novos equipamentos (o MAR e a Cidade das Artes) consumirão juntos R$ 32 milhões em um ano. E ainda vem o Museu do Amanhã por aí, num futuro próximo.

Não há exaltação de estética ou modalidade museológica que justifique tal desperdício de dinheiro público; é sim um descalabro com os recursos da Cultura e da Educação. Enquanto novos prédios são levantados, os equipamentos culturais já existentes se degradam com falta de recursos para manutenção de infraestrutura, para capacitação de pessoal e para apoio à formação de público.

Com relação à distribuição geral dos equipamentos culturais na cidade, enquanto a região central da cidade é priorizada para o investimento cultural, outras áreas sofrem com a carência de serviços de cultura. Onde está a “revitalização” da Zona Norte (AP3) e de Campo Grande (AP5)? Um dado muito relevante: 80% dos museus da cidade estão no Centro/ZSul/Tijuca, só no Centro são 41 museus (veja o Mapa dos Equipamentos Culturais).

Para debater e organizar as demandas culturais na cidade e financiar as ações de fomento de forma democrática é mais do que urgente efetivar a criação do Conselho Municipal de Cultura e do Fundo Municipal de Cultura – lei de nossa autoria aprovada em 2005, nunca colocada em prática.

É preciso melhorar a distribuição dos investimentos em todas as regiões da cidade, abrangendo os diferentes setores e contemplando o maior número de agentes culturais. Os artistas estão reagindo, é hora de toda a sociedade se questionar (Cultura para quem?) e se posicionar.

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