As galerias ficaram lotadas de manifestantes que foram à Câmara na tarde de terça-feira (25/06) pressionar os vereadores a assinar o pedido de abertura da CPI dos Ônibus. No Facebook, a página O Rio quer a CPI dos Ônibus aumenta a pressão sobre os parlamentares. Coordenador da campanha de mobilização pela criação e acompanhamento cidadão da CPI dos Ônibus – e da convocação virtual para a sessão de ontem no Legislativo -, Bernardo Aibinder revela, nesta entrevista, um pouco do perfil deste jovem que, definitivamente, saiu das redes para as ruas. Estudante de Relações Internacionais na UFRJ, Bernardo é co-fundador do movimento estudantil NOVE e trabalhou, durante mais de ano, na organização Meu Rio fazendo acompanhamento da Câmara Municipal e da Alerj. Bernardo milita em vários movimentos que têm o mesmo norte: “a vontade da sociedade de participar das principais decisões políticas da cidade e do país.”, diz Bernardo.
Você faz parte do movimento pelo redução da passagem e de outros movimentos. Quem faz este movimento? Como ele se estrutura e como ele se organiza?
No Rio, a principal organização que trabalha com essa causa é o Fórum de Lutas contra o aumento da passagem. Ontem, por exemplo, aconteceu no IFCS uma plenária com quase 3 mil pessoas! Paralelamente, estou coordenando uma campanha de mobilização pela criação e acompanhamento da CPI dos Ônibus na Câmara Municipal.
Por que apoiar a CPI dos Ônibus?
O sistema municipal de ônibus é uma grande caixa-preta, obscura inclusive para setores do próprio poder público. Já era hora de lutarmos pela abertura desses dados e pela apuração das relações desses empresários de ônibus com a prefeitura e vereadores.
Você já vinha trabalhando na pressão ao Legislativo. Há um grande descrédito em relação aos partidos e aos políticos. Qual a importância da representação política?
A representação política é importantíssima para democracia. Mas as instituições tem que entender que atualmente vivemos numa nova era das informações e que não podemos ter hoje o mesmo sistema democrático que foi estabelecido há cerca de 200 anos. Queremos repensar a democracia, para que ela seja menos representativa e mais participativa.
O Movimento Passe Livre/SP está avaliando os próximos passos do movimento? E no Rio? O que está sendo decidido nas plenárias?
O MPL é forte em São Paulo e, inclusive, se reuniu com a presidente Dilma. No momento, estão ainda discutindo sobre os próximos atos. Já no Rio a plenária de ontem decidiu sobre a realização de três atos: hoje, contra a violência policial e em solidariedade ao Complexo da Maré, amanhã por um transporte público e de qualidade e outro no domingo contra a privatização do complexo do Maracanã.
Por que o movimento explodiu? Você previa isso?
O aumento da tarifa de ônibus foi estopim das mobilizações não exclusivamente por causa do preço, mas sim porque a qualidade do serviço é péssima! A partir disso a sociedade começou a trazer diversas outras pautas para a rua. E, então, montou-se no país um cenário inédito de grandes debates políticos! Era impossível de prever quando aconteceria, mas era claro que em algum momento próximo a população daria um “basta” à falta de representatividade de nossos governantes e parlamentares.
Qual sua opinião sobre a repressão policial contra os manifestantes? Como manter o movimento pacífico?
Nos últimos atos ficou claro para todos que a polícia militar não tinha intenção de dispersar o movimento, mas sim reprimi-lo violentamente. A principal forma de manter o movimento pacífico é a própria polícia estar aberta ao diálogo e tolerância. Uma das palavras de ordem mais repetidas nos atos é “sem violência”!
Quais as principais bandeiras?
As bandeiras hoje estão muito difusas. Mas fica claro que o que todas tem em comum é a vontade da sociedade de participar das principais decisões políticas da cidade e do país. Ou seja, a população está clamando por mais mecanismos de democracia direta!