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Minha Casa, Minha Milícia: até quando?

Causou-nos profunda consternação a chamada de primeira página no Jornal Extra desta quarta-feira, sobre a atuação das milícias nos projetos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, além da nota publicada na coluna da competente jornalista Berenice Seara. Tal sentimento se dá, em primeiro lugar, pelo fato de tais grupos de bandidos continuarem a atuar na cidade, a despeito dos esforços de grande parte do sistema de segurança pública.

Mas, fundamentalmente, é de uma tristeza atroz a situação das centenas de famílias removidas pela prefeitura municipal nos últimos meses e jogadas à própria sorte naqueles conjuntos habitacionais que, como se vê, estão longe de proporcionar algum nível de dignidade a tantas e tantas pessoas já tão sofridas e discriminadas.

Nosso mandato tem acompanhado e denunciado com afinco a política de remoções da prefeitura. Já estamos encaminhando um requerimento de informações com vistas a mapear os projetos do programa “Minha Casa, Minha Vida” no Rio de Janeiro e aprofundar nossa investigação sobre as condições de vida das famílias removidas.

Ora sob os argumentos de uma suposta “preservação” ambiental, ora sob a alcunha de área de risco, ora por conta da urgência de grandes projetos voltados para a viabilização dos megaeventos, milhares de pessoas pobres tem vivido um clima de terror por conta das famigeradas pixações da secretaria municipal de Habitação em suas casas.

Essas pixações oficiais são a sentença de morte para comunidades inteiras, pois, uma vez cadastradas e incluídas no programa de remoções da prefeitura, só resta a tais famílias aceitar uma oferta, em geral irrisória, de indenização ou mudar-se para um desses conjuntos do programa “Minha Casa, Minha Vida” a dezenas de quilômetros de distância de seus lugares de origem, onde não existe a mesma infraestrutura.

Infelizmente, é isso mesmo. Às centenas de famílias cadastradas pela prefeitura, não se oferece qualquer alternativa que garanta uma permanência digna nos seus bairros de origem, levando à desagregação de suas redes de solidariedade, às suas relações pessoais, de trabalho e culturais.

Isso é fruto de uma ideologia, de uma política voltada diretamente para a discriminação dos mais pobres e para a constituição de verdadeiros bolsões de miséria nas periferias da cidade. Algo muito próximo do que se viu no Apartheid sulafricano ou nos guetos formados na Europa dos anos 1930, sob a hegemonia do nazi-fascismo.

O uso da violência por parte dos representantes da prefeitura são uma constante. As principais leis que conduzem a política urbana do município vem sendo modificadas e adaptadas para dar legitimidade e celeridade a essa ideologia segregacionista. Os aparelhos de estado, a serviço da prefeitura, foram tomados por lideranças e políticos diretamente vinculados a essa prática. Como principais operadores dessa política, vemos a própria secretaria municipal de habitação e a secretaria municipal da Casa Civil, através das subprefeituras.

Há que se colocar um fim nisso. Lutar contra esse estado de coisas não é lutar apenas pelos mais pobres, é lutar pela cidade como um todo. Afinal, a atual política de “vender” a cidade para os capitais imobiliário, turístico e transnacional a deixará, em poucos anos, inabitável para a grande maioria dos cariocas. Os preços das unidades residenciais já estão entre os mais caros do Brasil. O valor dos aluguéis no Rio já se equiparam às cidades mais ricas da Europa. Não há povo que resista coeso a um processo de encarecimento tão avassalador.

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