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O porquê da Copa na África

Com os olhos voltados para a África, mais especificamente para a África do Sul com sua história de desigualdades sociais, esperamos para ver como será o torneio mundial sediado em um país africano. O artigo de Eduardo Botelho, compositor do GRES Acadêmicos do Salgueiro e assessor do nosso mandato, expressa com precisão a relevância da Copa na África, ao som das vuvuzelas.

O porquê da Copa na África

“É a pergunta que muitos se fazem, desde que ficou evidenciado a total falta de infraestrutura rotineiramente exigida por comitês internacionais para mega eventos como uma Copa do Mundo. Só que mesmo sem contrariar este fato que é real, podemos ter e tirar dessa Copa uma lição ou algumas lições. Alguém duvida que mesmo sem todas as “frescuras” , algumas até necessárias, a Copa do Mundo que começa na sexta, terá início, meio e fim? Acho que não, todos acham e se preparam para dia 11 de julho conhecer a seleção campeã da Copa de 2010.

Talvez a Copa da África possa servir para que um certo país que sediará a copa de 2014 possa dizer alguns nãos a FIFA e a suas exigências economicamente absurdas, mas que governantes teimam muito oportunamente em atender e realizar. O que foi demonstrado ontem com o chamado “vuvuzelaço das 12:00 hs” em Johannesburgo, é uma demonstração da força de um povo que, se ainda não aboliu totalmente a desigualdade racial – e pelo que o mundo tem acompanhado está longe disso-, pelo menos conseguiu torná-la não oficial.

Foi impressionante ver com que alegria aquelas pessoas saudavam parte da comissão dos Bafanas Bafanas que desfilaram em carro aberto pelas ruas de uma de suas capitais hoje. Ali, mesmo que por uma tela de TV, vi um povo comemorando uma coisa muito mais profunda do que um título mundial que, tenho certeza e penso que a esmagadora maioria dos africanos também têm, a seleção local não conquistará.

Senti naquela maioria um sentimento muito mais nobre do que a conquista de um torneio. Os africanos mostrarão para o mundo que apesar de tudo o que potências colonizadoras fizeram durante séculos, eles ainda sobreviveram e vão ter o orgulho de poder receber todos “os mundos” em sua “tribo”, a tribo dos que pagaram na carne e no seio de sua cultura, que gerações de prepotentes julgavam primitiva mas não conseguiram destruir por inteiro. Um povo que, com certeza e até mesmo sem saber, está inundado por um orgulho anfitrião, vingando os verdadeiros reis de um continente que insistiu em existir.

Muitos fizeram e podem ter comemorado a Copa ser lá por motivos políticos e econômicos. O povo africano não. Vai receber, de braços abertos, todos, que por ganância ou por omissão, um dia acharam que aquele território não era povoado por humanos, e sim por bichos.

Por incrível que pareça, ontem vendo o Jornal Nacional, achei o motivo pelo qual devemos nos emocionar pela Copa da África do Sul. Mandela, no jogo de abertura, não estará lá representando o atual presidente daquele país e nem seus familiares que devem ocupar atuais cargos naquele governo; estará lá representando aqueles reis e rainhas que tanto louvamos em alguns enredos de nossa festa profana, o carnaval.

Viva eles… Viva a África viva, que receberá o mundo inteiro, em um território onde o sangue dos “colonizados-escravizados” era mais comum que água. Que o futebol possa fazer parte do mundo refletir sobre o que ainda é feito hoje, onde governos e organismos que deveriam primar pela paz e respeito à soberania insistem em combater intolerância com intolerância. Na Copa da África, se quisermos, podemos aprender até vendo um simples telejornal.

Vendo o JN, descobri e entrei no clima da copa.”

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