A solução técnica para o problema das comunidades do Horto foi heroicamente sustentada por diversas equipes que estiveram à frente da Superintendência de Patrimônio da União, com assistência técnica de pesquisadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. A solução social estava encaminhada pelas diversas rodadas de debate, travadas pelos próprios moradores e seus apoiadores. Só o que falta é solução política. Mas solução política, como se sabe, só acontece através do diálogo. E o diálogo tem que existir.
Sem essa de usar argumentos técnico-científicos ou bandeiras — tão genéricas quanto falsas — da defesa de um meio ambiente que só aparece enquanto ativo econômico nos discursos economicistas. Estamos tratando de uma questão eminentemente Política (sim, com P maiúsculo), pois se trata da garantia de direitos para centenas de famílias que ocupam, mansa e pacificamente, parte de um território muito disputado. Um território paulatinamente ocupado por mansões de altíssimo luxo — muitas em áreas de preservação permanente —, subestação de energia elétrica, prédios públicos, grandes empresas e clubes de lazer. Todos de discutível regularidade urbanística e ambiental.
O Jardim Botânico parece ter se tornado o aríete de interesses do capital imobiliário, discursos de dominação de classe, de expurgo da nossa memória enquanto Nação e da cultura pasteurizada dessa pós-modernidade capenga em que a cidade adentra neste século de obscurantismo e esfacelamento da res publica. No município do Rio de Janeiro, por exemplo, somos campeões no quesito “remoções de pobres” aumento das diferenças socioespaáais e gentrificação de áreas historicamente ocupadas por trabalhadores, como é a região do Porto. Temos aqui uma gestão que se gaba de ter sido “melhor” que a de Pereira Passos nesses quesitos. Por tudo isso, não nos alinhamos à incoerência do alcaide Eduardo Paes em sua suposta (e suspeita) defesa dos moradores do Horto. Suas declarações não podem ser levadas a sério quando tentam aludir simpatia à causa. Mais honesto seria reconhecer a situação em que as gestões PMDB-PT deixam os cofres municipais e o megaendividamento que nos aguarda em 2017!
Essas gestões, na prática, entregaram a política ambiental do estado para a Firjan e para as incorporadoras imobiliárias (sim, raposas tomando conta do galinheiro). Esses governos fecharam os olhos paia a usina TKCSA (que elevou em 70% nossas emissões de gases), operaram o desastre ambiental do complexo do Açu no Norte Huminense, e silenciam criminosamente no caso do campo de golfe olímpico — esse, sim, crime flagrante e ainda em curso! Promover a defesa do meio ambiente apenas quando ele se torna meio para o favoredmento de grandes grupos econômicos é uma das maiores covardias que um governo, qualquer governo, pode engendrar.
É covardia só defender o meio ambiente quando isso se torna veiculo para favorecer grupos econômicos
Eliomar Coellio é vereador no Rio pelo PSOL (Artigo publicado no jornal O Globo)
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