O clamor da sociedade civil não surtiu efeito: o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, segue inabalável em seu cargo. Outra sorte tiveram 12 experientes funcionários do bondinho de Santa Teresa sumariamente demitidos pelo Governo que ameaça demitir mais em janeiro.
Em carta divulgada pela AMAST, a Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa denuncia a atitude arbitrária do Governo e exige a imediata reincorporação dos funcionários.
Governo estadual demite 12 experientes funcionários do bonde de Santa Teresa
“Ao invés de demitir seu Secretário de Transportes, Julio Lopes, responsável direto pelo sucateamento do Sistema de Bondes de Santa Teresa por ter, inclusive, doado peças tombadas destes veículos como sucata para a ONG de sua mulher, Adriana Ancelmo, o governador Cabral, através de seus subordinados na Central Logística mandou para a rua, em plena época de Natal, 12 experientes e dedicados funcionários dos bondinhos de Santa Teresa e ameaça mandar mais em janeiro.
A decisão de dar este “presente de Natal” para os funcionários e moradores de Santa Teresa foi tomada uma semana depois de dirigentes da Central negarem que fossem mexer de algum modo nos funcionários do bondinho e agora, todos estes trabalhadores, assim como seus colegas que ficaram na oficina, vão passar um fim de ano sombrio com a ameaça de novos cortes.
Todos, assim como Nelson Correa, o motorneiro morto no acidente do dia 27 de agosto, eram aposentados, mas dedicavam sua vida aos bondinhos e é por conta do compromisso de cada um destes trabalhadores que, apesar dos magros recursos para manutenção enviados pelo governo estadual nos últimos anos, que o passeio turístico dos bondinhos de Santa Teresa, tão usado nas publicidades oficiais, existia.
Esta atitude do governo estadual evidencia seu interesse em “modernizar” os bondinhos e não “recuperá-los” como exige a sentença judicial ganha em 2009. Essa modernização, ao custo anunciado de R$ 5 milhões cada bonde, é cara e fere o tombamento desse sistema de 115 anos que, com os recursos de manutenção em dia, seria plenamente seguro em seus mecanismos tradicionais, precisando somente de alguns ajustes técnicos, como concluiu seminário técnico organizado pela Amast (Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa) com participação, entre outros, do CREA-RJ, Sindicato dos Engenheiros, Clube de Engenharia, industriais e pesquisadores como Fernando McDowell, livre-docente da Coppe/UFRJ.
Ao demitir os trabalhadores que carregam a memória técnica desse sistema de transportes limpo e barato, o governo estadual demonstra que, apesar de sua responsabilidade para com os fatais acidentes ocorridos em Santa Teresa e da decisão judicial de 2009, sistematicamente descumprida, ele vai passar por cima da vontade dos moradores e trabalhadores do bonde que há décadas lutam por sua preservação e, respaldados pelo tombamento do Inepac e pela Constituição Brasileira, têm o direito de ter participação ativa no processo de recuperação do sistema.
A Amast e os moradores de Santa Teresa exige que estes funcionários, que fazem parte da vida do bairro, sejam reincorporados e que sua experiência e conhecimentos técnicos sirvam para recuperar o Sistema de Bondes de Santa Teresa, sendo repassadas para as próximas gerações.”